Ganhei uma lembrança da minha diarista, ela fez um passeio até Holambra e trouxe um mimo para mim, uma bicicletinha em mdf com um cesto cheio de mini flores, realmente, um charme.
Coloquei na minha estante, onde guardo lembranças de viagens que eu fiz, de viagens feitas por pessoas queridas e também guardo ali presentes significativos com conexão emocional, é o caso de um par de xícaras pintadas a mão que ganhei de uma querida tia quando ela estava na fase terminal de um câncer.
Bem, ao colocar a bicicletinha na estante eu olhei meu Mickey e lembrei da viagem que fiz para a Disney. Precisei organizar o espaço e peguei um trem maria fumaça de Guararema me lembrei de quando eu estive na Estação Luís Carlos mas, fui de carro porque perdi o trem. Tudo isso me fez pensar como é interessante ter algo concreto para despertar nossa memória.
Pensei nos meus álbuns, pensei nas minhas pastas de fotos no meu computador, pensei nos meus diários de viagem, me dei conta que não faço mais diários. Hoje minhas fotos vão automaticamente para a nuvem, muitas vezes as recordações do Google Fotos me surpreendem com algumas imagens (que interessante, não consegui escrever fotos), contudo essas recordações não ativam minha memória com tanta vivacidade. Não é a mesma coisa que olhar para a minha estante.
Me preocupei. Será que preciso, de fato, de algo físico e palpável para ativar minha memória? Essa inquietação me levou a refletir sobre a sociedade do espetáculo, e lembrei que aquilo que não é vivido em essência pode não ser fixado na memória.
“A Sociedade do Espetáculo” é uma obra filosófica escrita pelo pensador francês Guy Debord. Publicado pela primeira vez em 1967, o livro é considerado uma das obras mais influentes no campo da teoria crítica. No livro, Debord argumenta que a sociedade moderna é dominada pelo espetáculo, uma forma de representação da realidade que se torna mais importante do que a própria realidade, indicando que a mercadoria e a aparência se tornaram mais valorizadas no contexto das relações sociais, tornando-se uma forma de relação social em que o ter e o aparentar ser suprem momentaneamente o viver, objetificando e artificializando as experiências, que deixam de ser vividas em sua essência. “A Sociedade do Espetáculo” é uma crítica profunda à sociedade de consumo e à cultura do espetáculo, destacando como esses fenômenos contribuem para a alienação e a perda de autenticidade nas relações humanas.
Considerando o exposto, trago reflexões:
- O quanto estamos nos envolvendo nos acontecimentos, nos fatos reais que ocorrem em nossas vidas? O envolvimento é essencial para nossa memória.
- O quanto estamos atentos com as sensações das experiencias vividas? Tudo que é tocado, saboreado ou cheirado penetra mais profundamente na consciência.
- Será que hoje em dia quando fazemos uma foto é para registrar um momento, é para termos algo que possa nos ajudar a reviver, a relembrar algo vivido em essência, ou é para aparecer?
Chegando ao fim, penso que a bicicletinha que eu ganhei poderia me levar para outros passeios, que podem virar outros textos, mas o primeiro passeio foi este, e acho que entendemos a mensagem. Antes de registrar, precisamos viver!